LEI Nº 2.594, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2021

 

Autor: Vereador Cristian Oliveira de Souza.

 

“Denomina “PRAÇA MARIA ROSA DOS SANTOS "TIA NENÊ", a área pública localizada no cruzamento da Avenida Dr. Arthur Costa Filho com a Rua Francisco Samuel Nepomuceno no bairro do Ipiranga”.

 

JOSÉ PEREIRA DE AGUILAR JUNIOR, PREFEITO MUNICIPAL DA ESTÂNCIA BALNEÁRIA DE CARAGUATATUBA, usando das atribuições que lhe são conferidas por Lei, faz saber que a Câmara Municipal aprovou e ele sanciona e promulga a seguinte Lei:

 

Art. 1° Fica denominada de “PRAÇA MARIA ROSA DOS SANTOS "TIA NENÊ", a área pública cadastrada sob identificação 02.046.045, localizada no cruzamento da Avenida Dr. Arthur Costa Filho com a Rua Francisco Samuel Nepomuceno no bairro do Ipiranga.

 

Art. 2° Fica fazendo parte integrante desta Lei a justificativa e croqui de localização, anexos.

 

Art. 3° O Poder Público Municipal comunicará a nova denominação às concessionárias de serviços municipais, às associações dos oficiais de justiça, aos taxistas e aos cartórios do Município.

 

Art. 4° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

 

Caraguatatuba, 17 de dezembro de 2021.

 

JOSÉ PEREIRA DE AGUILAR JUNIOR

PREFEITO MUNICIPAL

 

Este texto não substitui o original publicado e arquivado na Prefeitura Municipal de Caraguatatuba.

 

JUSTIFICATIVA:

 

MARIA ROSA DOS SANTOS é a terceira filha de um casal de caiçaras que viviam da pesca e do que conseguiam com sua pequena agricultura familiar, Maria Rosa dos Santos ou “Dona Nenê”, como viria a ser conhecida, não nasceu em Caraguatatuba, como muitos pensavam, mas em Miracatu, próximo a cidade natal de sua Mãe, Dona Zulmira, no dia 03 de novembro de 1950. Mas com poucos dias de vida já retornava para essa cidade tornando-se uma Caraguatatubense com muito orgulho.

Tornou-se mãe muito jovem de filhos que se tornariam o seu maior orgulho e riqueza: Anselmo Junior, Aparecida Angélica, Maricelma e Leandro.

Passou toda sua vida no Bairro Camaroeiro e foi ali, no meio de uma família simples que aprendeu e ensinou a simplicidade e o amor.

Ao lado de seus irmãos Adilson, Alice (Nena), Manoel (Kako), Benedito (Juca), Fatima, Sueli, Angela e por pouco tempo o Joãozinho, que morrera ainda menino, a família foi crescendo, criando raiz e ganhando respeito de toda a comunidade.

O seu grande inspirador foi seu pai, Sebsatião Izidoro, pescador conhecido por ser um benzedeiro muito procurado por sua fé na cura e pelo amor com que recebia todos os enfermos em sua humilde casa. Somente dois momentos no dia, ele não atendia ninguém: em sua sesta (cochilada depois do almoço), ou as 18h quando se recolhia em seu oratório para sua oração diária. “Tião Izidoro” era um pescador devoto de São Pedro e suas festas, na sua casa a beira mar, era conhecida muito além de Caraguá. Dona Nenê era uma das mais entusiasmadas. É fácil achar entre os moradores mais antigos da cidade, que conhecera essa festa e essa crença dentro dessa família.

A festa era um evento muito grande que era realizada no dia 29 de junho, dia de São Pedro, onde tudo era doado, tanto para a população como pela população. Era feito com a união dos que tinham um poder aquisitivo maior e por aqueles que doavam o que tinham e muitas vezes era a mão de obra.

Eram dias ensaiando a quadrilha de adultos e crianças, as bebidas, quentão e vinho quente, que eram armazenados em caixas d’água. Havia pau de sebo, leilão de quitutes que eram levados pela população e muita animação.

Dona Nenê cuidava, junto com seus irmãos, de cada detalhe. Eles se divertiam e trabalhavam incansavelmente. Era bonito de se ver. E assim, mesmo com a partida do pai Tião Izidoro, a família seguiu festeira e unida e enchiam Dona Nenê de orgulho com seus atos de amor ao próximo.

Dona Nenê se dividia em cuidar de filhos e trabalhar muito. Não media esforços para ganhar o seu dinheiro. Muito nova, já com 3 filhos, trabalhava na escola do Ipiranga, bairro que geograficamente se funde com o Camaroeiro que leva esse nome por ser o reduto de pescadores. Essa escola, viria a se chamar Alcides de Castro Galvão, depois de uns anos. La, Dona Nenê passou 32 anos de sua vida, saindo apenas por um breve tempo trabalhando em uma escola do Bairro do rio do Ouro, onde fez sua transição de funcionária da Prefeitura para Funcionária Pública Estadual, onde atuava como servente.

Sempre gostou de fazer tudo o que podia na escola e mesmo tendo estudado só até a quarta série do primário, às vezes até se atrevia a ficar com os alunos quando um professor precisava dar uma saidinha.

Ela fazia e servia a merenda, lavava toda a louça, fazia a ronda para controlar a criançada, fazia um café maravilhoso para os professores, rodava mimeógrafo, acendia a luz e apagava a luz.

Às vezes era brava e enérgica, mas sempre se colocava do lado de quem precisava.

O termo “Enquanto descansa, carrega pedra”, parece que foi feito para ela.

Não havia descanso. Ela passava e lavava roupa pra fora, ela trabalhava em casa de família antes de seguir para a escola, ela cuidava de casa de temporada, enfim, seu nome era trabalho. Mas tinha um trabalho que dava muito prazer a ela, estar no mar. Tirando o seu marisco na costeira, com uma espécie de foice, não tinha limites. Rolava com suas pencas de marisco agarrando com força para não perder nada. Os filhos, ainda pequenos, cuidavam de recolher o que era jogado pra cima da costeira e colocar em um saco bem grande, que ela levava com braço forte até sua casa. Jogava tarrafa como ninguém, sempre atenta as mantas de parati que passavam de um lado pro outro. Às vezes, uma tarrafada só já era o suficiente para voltar para casa e fazer aquele arroz com peixe fresquinho para os seus filhos.

Depois de sua aposentadoria, ocupava seu tempo cuidando de netos, bisnetos e sobrinhos, além de se dedicar ainda mais a pesca, que tanto amava, sempre em companhia do filho caçula. Descobriu que gostava muito de cantar e também se dedicou a cantar na igreja onde era feliz com novos e velhos amigos.

Enfim, sua dedicação a família e ao trabalho acabaram sendo sua herança a todos que conviveram com ela.

As doenças que vieram com o tempo, não eram empecilho para roubar sua alegria. Tomava seus remédios e seguia feliz sem nunca reclamar.

Infelizmente, quis o destino, que sua vida chegasse ao fim pelo vírus da Covid 19 no dia 22 de agosto de 2020. Um momento triste e ao mesmo tempo de muita reflexão e agradecimento por ter conhecido e convivido com uma mulher única e indescritível.

Como não poderia deixar de ser, suas cinzas foram lançadas ao mar, bem onde passou sua vida, onde ensinou a viver e onde será sempre lembrada como a dona Nenê pescadora.

Por todo exposto, apresentamos esta propositura a esta Casa de Leis esperando a aprovação deste projeto que homenageia MARIA ROSA DOS SANTOS “TIA NENÊ”, a área cadastrada sob a identificação 02.046.045, localizada no cruzamento da Avenida Dr Arthur Costa Filho com a Rua Francisco Samuel Nepomuceno no bairro Ipiranga, nesta cidade de Caraguatatuba.

 

Sala “Benedito Zacarias Arouca”, 08 de outubro de 2020.

 

CRISTIAN OLIVEIRA DE SOUZA

 VEREADOR CRISTIAN BOTA.

 

Este texto não substitui o original publicado e arquivado na Prefeitura Municipal de Caraguatatuba.