LEI Nº 989, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2002

 

Denomina “ANA FRANCISCA FACHINI - DONANA” a Rua Monte Alegre do Sul que se localiza no Bairro Martim de Sá, neste Município.

 

Autor: Ver. Vera Lúcia Moreira Peixoto

 

ANTONIO CARLOS DA SILVA, Prefeito Municipal da Estância Balneária de Caraguatatuba, usando das atribuições que lhe são conferidas por Lei, FAZ SABER que a Câmara Municipal aprovou e ele sanciona e promulga a seguinte Lei:

 

Artigo 1º Passa a denominar-se “RUA ANA FRANCISCA FACHINI - DONANA” a Rua Monte Alegre do Sul que se inicia e termina na Avenida Aldino Schiavi contornando a Praça Antônio Fachini, localizada no Bairro Martim de Sá, neste Município.

 

Artigo 2º Ficam fazendo parte integrante desta Lei a justificativa e croqui de localização, anexos.

 

Artigo 3º O Poder Público Municipal comunicará a nova denominação às Concessionárias de Serviços Públicos, às Associações dos Oficiais de Justiça, aos Taxistas e aos Cartórios do Município.

 

Artigo 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

 

Caraguatatuba, 18 de dezembro de 2002.

 

Antonio Carlos da Silva

Prefeito Municipal

 

Este texto não substitui o original publicado e arquivado na Prefeitura Municipal de Caraguatatuba.

 

“JUSTIFICATIVA:

 

ANA FRANCISCA FACHINI - DONANA, nasceu no dia 03 de maio de 1909 e como era comum naquela época acontecer com os pais de pessoas nascidas em fazendas encontrar dificuldades nos registros de nascimentos em cartório, sua verdadeira idade pode ter alguns anos a mais. Faleceu em Caraguatatuba, onde foi sepultada no dia 05 de maio de 2002. Seus pais foram Antônio Jorge e Maria Antônia. Era a segunda filha deste casal e tinha quatro irmãs e um irmão. Desde a mais tenra idade, aproximadamente com quatro anos, já trabalhava na fazenda descaroçando algodão e debulhando milho. Aos oito anos participava com sua família no plantio de arroz. Ao perder seu genitor, ainda criança, mudou-se com sua mãe e irmãos para a fazenda da avó paterna, por ordem desta, uma ameríndia, em Jacareí. Devido às dificuldades se tornarem ainda maiores, sua mãe, com ajuda do capataz, se transferiu com os filhos para outra fazenda, esta agora da avó materna, próxima de Caçapava.

 

Adolescentes, com sua mãe e irmãos e outros parentes próximos, mudou-se para a região central de São José dos Campos onde trabalhou com a família Weiss, como doméstica. Trabalhou também na fábrica de cerâmica desta família e no consultório do afamado médico tisiologista Dr. Rui Dória. Em sua mocidade residiu em Santo André para cuidar de seu irmão e outros jovens parentes e amigos que foram em busca de trabalho nas indústrias siderúrgicas que por lá se instalavam.

 

No ano de 1939, Antônio Fachini, viúvo há cinco anos, a viu em um campo de futebol e disse aos amigos que aquela seria sua segunda esposa, o que aconteceria na data de 28 de dezembro de 1939 em São José dos Campos e o casamento no religioso em Aparecida do Norte.

 

Antes de casar-se veio a Caraguatatuba com a futura sogra, enteadas e cunhado conhecer a cidade escolhida para próxima residência e a qual seu futuro esposo já conhecia e freqüentava anualmente desde 1910. Aqui se hospedaram em uma casa alugada de propriedade da família José Vicente e Maria Duarte, onde hoje é o Banco Itaú. Após o casamento retornaram para Caraguatatuba e alugaram a Pensão Garrido, localizada na Rua Santa Cruz. Tiveram 5 filhos que participaram e participam ativamente da vida da cidade, a saber: Roberto Graciano Fachini, Rodoaldo Graciano Fachini (ex-Vereador Dadinho e esposo da Vereadora Madalena Maria Fachini), Roaldo Graciano Fachini, Ronaldo Graciano Fachini e Ana Maria Fachini Passetto. Nesta pensão hospedaram ilustres personalidades da sociedade da nossa história e também da política, como podemos citar: Frei Pacífico Wagner, Padre João Balistiéri, o casal João Paulo e Alzira, a família do General Valeriani e principalmente turistas do Vale do Paraíba e da Capital. Não havia distinção de classe entre seus hóspedes, ao mesmo tempo em que recebiam um ilustre representante também era acolhido um humilde morador local. Em uma época em que os servidores públicos demoravam em receber seus proventos, especialmente os professores, era naquela pensão que se sentiam acolhidos e sem nunca se sentirem pressionados por atraso nos pagamentos. Durante a guerra ali estiveram acolhidas as primeiras famílias de imigrantes japoneses que vieram se estabelecer na antiga fazenda Jetuba e foram obrigados a se retirarem para o interior por ordem governamental. Todos que ali chegavam invariavelmente retornavam pela acolhida do casal e pela forma com a qual divulgavam Caraguatatuba, fazendo com que adquirissem propriedade para uso em suas férias ou residências permanentes. Devido à amizade do casal com famílias de pouca renda era comum haver hóspedes pagantes e uma família inteira sem nada pagar hospedados na pensão, até mesmo por motivo de doença já que este tipo de assistência era muito rara naqueles tempos. Era proibido às empregadas negar um prato de comida a quem tinha fome.

 

Seus conhecimento e domínios sobre ervas artesanais adquiridos na adolescência nas fazendas de suas famílias e cujas plantas tinha em seu quintal, eram utilizados na cura de muitas doenças. Seu conhecimento com o Dr. Dória (agora com laços de compadrio), Diretor responsável pelo Sanatório Vicentino Aranha, centro especializado em tisiologia (ramo da medicina que estuda a tuberculose em todos os seus aspectos e localizações) era aproveitado para encaminhamento de doentes de nossa cidade, que devidamente tratados não se esqueciam de agradecer a DONANA, pois consideravam que esta senhora havia lhes salvado a vida. No falecimento de pessoas, época em que os velórios se faziam nas residências e as urnas funerárias eram construídas de ripas de madeira e pano roxo, a DONANA era chamada para banhar os corpos, vestir as mortalhas e conduzir as orações.

 

Seus dotes culinários eram utilizados nas quermesses da Praça Cândido Mota, nas barracas de quentão e bolinhos caipiras, que se transformaram em rendas utilizadas na reforma da Igreja Matriz de Santo Antônio, onde foi instalado um vitral com o nome da FAMÍLIA FACHINI, cujo desenho escolhido externa a maior contribuição do casal: o Menino Jesus nos braços de Santo Antônio, o Padroeiro, distribuindo pães aos pobres. Foi durante anos, com suas amigas, responsável pela chave da Igreja Matriz e pela limpeza, tanto do templo como da casa paroquial. Participava na organização das tradicionais procissões de Santo Antônio, de Nossa Senhora das Dores e nas Sextas-Feiras Santas. Fez parte da tradicional Irmandade dos Apóstolos do Sagrado Coração de Jesus, do Roupeiro de Santo Antônio, distribuindo roupas às famílias carentes, colaborou com o Asilo São Vicente de Paula e com a APAMI, sempre ao lado de tradicionais matriarcas de nossa cidade, a saber: Dona Benedita Pinto (ex vice-prefeita), Dona Ciloca, Dona Jandira Waack, Dona Nanete, Dona Bertolina, Dona Dora Cajé, Dona Vivina, Dona Ziza Laurindo, Dona Lampinha, Dona Matilde, e minha mãe Dona Cida entre muitas outras de iguais dignidades. Um rol de mulheres que fazem parte da história de Caraguatatuba.

 

Apesar de não ter nenhuma escolaridade era de uma cultura impar, com total respeito a outras crenças religiosas e ausência total de quaisquer preconceitos. Era uma fonte contínua de bons exemplos para todos e em especial aos mais jovens, para os quais sempre tinha uma palavra de conforto e um gesto de benevolência para suas falhas.

 

Das muitas histórias que se contavam a seu respeito, uma tem a face folclórica de nossa política: Seu Toniquinho, seu marido, saiu candidato a Vereador, e naquela época podia-se, legalmente, dar alimentação aos eleitores. Por ser uma das pessoas mais conhecidas na cidade e dono de uma pensão, a eleição praticamente já estava garantida. Acontece que, enquanto Seu Toniquinho dava sua cédula na porta da pensão, DONANA pedia a mesma de volta para dar o prato de comida na cozinha. Resultado: o marido nunca mais se candidatou a cargo político na cidade.

 

Suas relações, quase que familiares, mostram a amplitude de seus relacionamentos: os Aroucas, os Nardis, os Nepomucenos, os Mendes, os Ferreiras, os Pimentas, Os Mateus, os Oliveiras, os Santos, os Melquíades e os meus pais Vicente Orlando e Dona Cida. Para o casal Fachini dois predicados tinham especial valor: a amizade e o respeito.

 

Donana e Seu Tonico ajudaram, junto com sua prole, a construir uma página da história do comércio, educação, saúde, esportes, política e do social de Caraguatatuba.

 

Nada mais justo deixar registrado nos anais desta Casa de Lei a perpetuação do nome da Sra. Ana Francisca Fachini, prestando esta homenagem à família que conviveu com uma pessoa humilde, honrada e atuante. Solicito dos Nobres Pares desta Casa de Leis a aprovação para esta propositura.

 

Sala “Benedito Zacarias Arouca”, 04 de dezembro de 2002.

 

Vera Lúcia Moreira Peixoto

Vereadora Vera

 

Caraguatatuba, 18 de dezembro de 2002.

 

Antonio Carlos da Silva

Prefeito Municipal